Quando o fogo mata e só resta o medo

Autor: Professora Ana Ferreira

E a história repete-se. Todos os anos com maior ou menor gravidade, a história repete-se. Os incêndios consomem vidas e devastam patrimónios. São um flagelo da humanidade. E seria tudo evitável se houvesse, no nosso país, uma política de prevenção. Mas não, continuamos com o mesmo amadorismo e com uma posição de reação estafada porquanto já ensaiada vezes sem conta por quem de direito.

Infelizmente, as alterações climáticas são de longe as mais responsáveis pelas perdas catastróficas, o que exige estratégias de prevenção com planos eficazes de manejo agrícola e florestal, juntamente com a consciencialização e responsabilidade de todos os cidadãos. As causas dos incêndios são também as mais diversas passando por políticas de corte e queima, queima de detritos, uso de equipamentos, de líquidos inflamáveis e maquinarias, reacendimentos de incêndios, queda de raios, queimadas e fogueiras, interesses financeiros nomeadamente dos madeireiros… A lista continua com cigarros acesos, fogo de artifício, incendiarismo e “mão criminosa” (fogo posto). A associação entre a causa dos incêndios e a chamada “mão criminosa” é uma das principais razões da destruição de milhares de hectares de área florestal em Portugal. Este ato criminoso é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

Pois bem. Portugal enfrentou novamente uma época de incêndios florestais de grandes dimensões. Foram vários os fogos que obrigaram ao corte de troços de autoestradas e condicionaram a circulação ferroviária, levando varias empresas a suspenderem os seus serviços. Ora, os incêndios tem consequências duradouras na economia e no turismo. A situação atual está longe dos números de 2017 cujos fogos consumiram uma área ardida de 500 mil hectares e provocaram 115 perdas humanas no grande incêndio de Pedrogao Grande. Porém, os impactos económicos serão uma certeza. O impacto dos incêndios florestais é profundo e duradouro na economia indo muito além dos custos imediatos de combate e dos danos materiais. Torna-se imperativo um reforço das políticas de prevenção e combate aos incêndios florestais, não apenas como medida de proteção ambiental e de segurança pública, mas também como estratégia fundamental para salvaguardar a economia nacional.

Atentemos agora aos factos. O primeiro-ministro, qual timoneiro sem leme nem rota, à boleia de um Presidente da República que já navegou em melhores águas, teceu algumas considerações dignas de uma Polícia Judiciária ou de uma Providência Divina, quando afirmava que a “mão criminosa” iria ser severamente castigada, procurando-a incessantemente por toda a parte e nunca lhe perdoando tal ato criminoso. A Ministra da Administração Interna, essa, num abraço sentido que soou a despedida do elenco governativo por imperativo de um erro de “casting”, também foi prestar a sua solidariedade aos cidadãos afetados pelos incêndios, tal como os atrás mencionados, todos sustentados na iguaria “uma democracia sem moralidade e uma tirania “. E, assim, deste modo tão escancaradamente populista apagaram algumas mágoas e reacenderam um pedacinho de esperança. Vamos ver até quando!…

Por agora, deixo neste registo as palavras cheias de força e coragem de um cidadão lesado: “Já me arderam duas casas, sou português, se me cortarem uma mão seguro a bandeira com a outra, se me cortarem as duas seguro-a com os dentes”. Testemunho impressionante e inspirador!

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