Autor: Professora Ana Ferreira
Comecemos esta narrativa pela tão falada precariedade. Não há professores é um dado adquirido e, como isto anda tudo ligado, um facto que o comprova é a falta de atratividade na carreira que se traduz por salários baixos o que gera, logo à partida, desmotivação mas também a responsabilidade e a sobrecarga de trabalho não são de excluir. Pelo contrário, são pontos fortes e determinantes. Vamos por partes. Não há como comparar o desgaste físico e emocional de um professor que tem a seu cargo turmas de 25 alunos de diferentes nacionalidades e, consequentemente, diferentes ritmos de aprendizagem. Convenhamos que é muito mais apetecível e gratificante estar na caixa de um hipermercado ou num cabeleireiro a contabilizar a espuma dos dias e a passear no “jardim da Celeste”. Falemos agora de burocracia. Sim, porque para além do professor ministrar as suas aulas e ter de as preparar previamente ainda tem de preencher dezenas e dezenas de documentos que ninguém lê mas que são de escrita obrigatória. Para um professor o tempo do trabalho não é o tempo do relógio. Ocupação plena sejam que horas forem, seja pela noite dentro, a disponibilidade tem de ser uma certeza e a capacidade de trabalho um valor acrescentado.
Um dia destes um passarinho veio-me dizer ao meu ouvido que um professor aos 60 anos não deveria ter turmas. A sua função seria coadjuvar, acompanhar e supervisionar os mais novos nesta missão de ensinar. Mas onde estão eles? Que turmas lhes caberiam em sorteio? Pois bem, aquilo que é por demais evidente é que os professores nesta faixa etária têm cada vez mais turmas, mais cargos, mais apoios e toda a parafernália vigente numa escola dos dias de hoje. São estes professores que estão verdadeiramente “entalados” na carreira pois uma vez entrados a sua saída afigura-se cada vez mais longínqua e remota. Não há volta a dar. Os novos não querem entrar na carreira e os mais velhos querem sair dela o mais depressa possível. São estes os dados da equação. O denominador comum é o que está subjacente à escola atual: uma mão cheia de nada e o buraco do donut a derreter o recheio que, afinal, ninguém quer provar.