Autor: Professora Ana Ferreira
O primeiro fenómeno a constatar singularmente acentuado no presente é o aparecimento de uma nova legião de “comentadores”. Por assim dizer, recebe-se ao mesmo tempo a informação e as reações a que essa informação se reporta em tempo real. As crises, o universo de operações e toda a panóplia de opiniões repercutem-se no país inteiro, indo de uma ponta à outra dos contextos, por mais distintos e peculiares que sejam. Tudo se passa como se tivéssemos mudado de planeta. Até o fervor inicial de emitir um juízo ou uma crítica esmoreceu. São múltiplos os fatores que a pervertem. Muitos os obstáculos. Demasiadas as contradições. Mas se essa evidência não lhe embacia o significado, não são menos de considerar o que os motiva. Mesmo que ao lado de uma acomodada forma de agir persista uma rebelde forma de pensar. As pessoas deveriam ser valorizadas pela sua qualidade humana. Não há credos, programas ou intenções que, mais cedo ou mais tarde, não esbarrem ou não se reforcem com o que cada um é como pessoa. O tempo correu, as distâncias acentuaram-se. E assim, ao confrontar-me com o meu passado sou levada a medir-me com a pessoa que fui e que talvez já não coincida com a pessoa que hoje sou. Hoje não preciso de pensar, estou isenta desse exercício já tão desnecessário porquanto tão fundamental. Uma notícia, por mais singela ou simplista que seja, é esmiuçada até à exaustão por comentadores sorteados para o efeito que, fazendo juz, ao provérbio “cada cabeça sua sentença”, vão driblando e esgrimindo argumentos que, por vezes, não convencem nem o Menino Jesus. A notícia já não é o que era. Uma informação séria, sóbria, que se limitava aos factos e fazia deles verdades irrefutáveis. A palavra “acreditar” ganhava relevo e expressão e a dúvida era sempre uma palavra remota e distante. A notícia já não é o que era. A informação ganhou asas de desinformação envolta que está numa teia de comentários, apreciações e opiniões que lhe retiram a veracidade e a essência e remete os espetadores para a esfera da descredibilidade e indiferença. Em democracia estas palavras são, no mínimo, preocupantes. Não vale a pena emitir uma opinião, formular um juízo de valor pois vem tudo já carimbado sob o signo das ideias já repetidas vezes sem conta por quem pretende ter uma ação – reação sobre as nossas escolhas.
Pensar? Para quê?…