Autor: Célsio Alegria, 9ºD
Num dia que não interessa a ninguém, agarrei no telemóvel, abri, deslizei inconscientemente pelas redes sociais, quando apareceu, de forma histriónica, um vídeo de um político a gritar ”Acordem! O mundo está a ser controlado pelos lagartos paquistaneses”. Ignorei. Segundos depois, deslizei o dedo e… “Tubarões de quatro cabeças aterrorizam o oceano!!!”, “Abriu uma Trump Tower em Pyongyang!!!”, “Os gatos são alienígenas!!!”, “O papa é o ANTICRISTO, vamos TODOS morrer!!!”… E depois diziam que a culpa de tudo era dos pinguins islâmicos da Antártida.
Não ignorei… Cliquei… ERRO (primeiramente)… Em menos de 10 minutos, a minha For You foi deslocada para o século XIV; tornou-se numa autêntica feira medieval – Teorias da Conspiração, anti darwinismo, terraplanismo – O Fim do mundo!
O que aconteceu? Alguém deve ter olhado para mim e pensou que eu devia gostar de teorias loucas e otárias – “Sirvam-lhe uma dose dupla!” Dizem que isto se chama ALGORITMO. Os algoritmos, conjuntos de instruções que organizam informação automaticamente, ou, por outras palavras, pequenos geniozinhos digitais cuja aspiração é transformar cérebros em puré.
E tem bastante utilidade… Utilidade? Claro! Os algoritmos devem ajudar-nos a encontrar conteúdos de qualidade: receitas, cursos online de piano e guitarra, gatos (sejam eles humanos ou animais). A teoria é bonita, mas a humanidade tem queda natural para o poço e acabamos por receber as “50 teorias sobre a queda da civilização europeia”. Além dos algoritmos promoverem o vício nas redes sociais, estes também contribuem para a formação de bolhas digitais, nas quais as pessoas “só veem o que querem”, o que reforça as suas ideias. Outra das suas utilidades é promover as notícias falsas, visto que os algoritmos priorizam e dão visibilidade baseados no maior número de interações e não na veracidade. E tantas, tantas outras como o reforço dos estereótipos, sejam eles raciais, de género ou culturais; o controlo das preferências e das compras dos usuários, o voto das pessoas, a manipulação emocional, entre outros…
Os bigodinhos perceberam muito bem o truque: as redes sociais são amplamente usadas, os algoritmos mostram o que reforça as nossas ideias. Então, inventamos, por aí, uns cinco vídeos patéticos, umas piadas dos anos 40, e deixamos que os jovens e os menos jovens sejam marinados como patas de galinha, no ódio, na ignorância e na mistura de um bom bocado de “DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA” E TIK TOK. Tal como noticiou a rede espanhola Cadena SER, “Como a conta falsa de Manu, um sevilhano de 15 anos e apolítico, acabou cheia de mensagens de Vox, Santiago Abascal e Alvise”.
Coitadinhos dos jovens, caíram na esparrela! A juventude, que outrora era rebelde e revolucionária, hoje em dia acredita em TUDO! Acredita que a culpa dos seus fracos resultados é dos… imigrantes; que a culpa da lentidão do Wi-Fi é conspiração global para os manter alienados da verdade; que a culpa de ser segunda-feira é do despertador…. Enfim, acreditam nas coisas mais ridículas. ACREDITAMOS NAS COISAS MAIS RIDÍCULAS POSSÍVEIS! E os mais velhos (desta vez) não ficaram de fora… “A análise das universidades de Princeton e Nova York, publicada pela revista Science Advances (em janeiro deste ano [2019]), avaliou o perfil de 3,5 mil internautas no Facebook, durante a eleição presidencial de 2016, nos Estados Unidos: aqueles que têm idade superior a 65 anos compartilharam sete vezes mais notícias falsas do que os com idades entre 18 e 29 anos.” – tal como avançou o Jornal Exame.
Concluindo, o algoritmo tornou-se o maior agente de alienação e formatação do século XXI. Portanto, da próxima vez que vires um vídeo de (…), não te esqueças que talvez não tenhas sido tu a escolher… Foi o algoritmo…E ele acha que mereces exatamente o que viste!
