O que é Amar um País

Autor: Professora Ana Ferreira

Um país é um país. Essa identidade nacional vai-se constituindo como todo orgânico, vai adquirindo fisiologia, um modo de ser idêntico a tantos outros mas igual a nenhum. Essa singularidade é ele próprio. Se não a tiver, não existe como nação. Se a adulterar, facilmente se desagregará. Se a destruir, pouco ou nada lhe resta de coerência e permanência como entidade coletiva. Não é por acaso que cada país cria e preserva os seus valores que são o seu esteio, padrões referenciais que vai questionando com segurança e imaginação. Mesmo quando eles, em algumas das suas saliências se associam a épocas que não se desejam repetidas. As suas referências são simultaneamente o seu nutriente e a sua expressão. A vida de um país assenta em duas coordenadas: o real, que se repete até à monotonia e ao cansaço e o não-real, ou seja, o sonho, a utopia que tudo fazem mover. Para que o sonho reconheça que tem asas e faça o país florescer. Amar um país é merecer sempre a verdade, em particular a verdade dos momentos críticos sob os quais se esconde o jogo das personagens. Amar um país é negar a necessidade e a vontade de idolatrar ídolos, é abolir os moldes que foram o álibi de tantas incoerências e injustiças e, ainda, não ter pressa em abreviar as estruturas e valores que aparentemente já não servem. Amar um país é não calar o povo para falar em seu nome que é talvez a mais hipócrita das dominações. Um país onde não baste que a ideia clame pela realização mas sim que a própria realidade reclame pela ideia. Um país que não seja feito de sobras e de pontas soltas onde o tempo, os factos, as pessoas e as coisas não estejam apenas à espera que essas sobras se esgotem. Amar um país é pugnar pela democracia, pela justiça e pela dignidade humana. É dizer não ao poder que se enreda na astúcia, na mentira e na mediocridade. Amar um país é sermos felizes , é mantermos a chama acesa e a esperança de nos mantermos sempre em casa. Um país que é uma casa familiar  e que quando a ele voltamos termos a sensação  de um espaço acolhedor de que somos privilegiados moradores. Poderá ser agradável de ver, ou até de ser visitado, mas por mais que nele nos demoremos permanecemos sempre deslumbrados. Nele sentimos o toque da democratização que está na permuta sem olhar ao topo nem à base e que está no olhar permeável e na humildade que o é mesmo sem o confronto da arrogância. Um país que rejeita os extremos e procura as harmonias. Um país em que a utopia vai sempre à frente da realidade, instigando-a e acelerando-a. 

Um país à procura de um país. Este, o nosso. Viaja-se nele e observa-se a sua grandiosidade, os seus grandes feitos.  É aqui que  o mar se cruza com a terra formando paisagens únicas. Tudo o que se destruiu apaga a sua memória e fazem dele uma concha vazia.  

Finalmente, um país que nas palavras de Fernando Pessoa “A minha pátria é a língua portuguesa” expressa um forte sentimento  de identidade e de pertença, um espaço cultural e emocional que une todos os falantes desta língua. Um espaço em que se celebra a riqueza e a diversidade da língua portuguesa e a sua capacidade maior de unir povos e culturas. Um amor infinito onde as palavras criam laços. É um país de todos, todos, todos. É um país para todos, todos, todos. O nosso país. 

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