Autor: Bruna Reigadas, 10º A
E se amanhã não houvesse regras? Se, ao acordar, o mundo estivesse livre das expetativas dos outros, das notas, das obrigações, das ordens murmuradas ou gritadas que nos dizem como devemos viver? Foi isso que John Keating tentou ensinar aos seus alunos: que a vida não é um ensaio geral, que o tempo avança sem esperar por ninguém e que, quando menos esperamos, a cortina fecha-se sem aviso.
“Carpe diem”, disse ele. Aproveitem o dia, rapazes. Mas o que significa, de facto, aproveitar a vida? Estaremos realmente a viver ou apenas a obedecer? Quantos de nós se sentem como Neil Perry, sufocados por um guião escrito por outros, vivendo entre muros invisíveis que chamamos de responsabilidade, tradição ou segurança? O medo de dececionar aqueles que nos rodeiam torna-se uma corrente silenciosa, mais forte do que ferro, mais implacável do que qualquer prisão.
Keating não ensinava apenas poesia. Ensinava o «risco» de ser livre. Mostrou que não basta conhecer as palavras; é preciso senti-las. Que um verso pode ser uma janela e que a arte é uma forma de grito. Que subir para cima de uma mesa não é um ato de rebeldia, mas uma nova maneira de olhar o mundo. No entanto, a liberdade assusta. Muitos de nós preferimos a zona de conforto, mesmo quando ela é uma cela dourada. E, quando alguém ousa quebrar o silêncio e dizer “EU quero mais”, o mundo, muitas vezes, responde com repressão.
Hoje, talvez a maior repressão não venha dos pais ou da escola, mas de uma pressão invisível que nos obriga a corresponder a padrões inalcançáveis. As redes sociais inundam-nos com vidas perfeitas que não existem, e a cultura da produtividade faz-nos acreditar que tempo livre é desperdício. Mas agora há um novo desafio: a inteligência artificial. O mundo acelera, a tecnologia pensa por nós, responde por nós, cria por nós. Se a poesia é o grito da alma, será que um algoritmo consegue senti-la?
Se Keating estivesse aqui, talvez nos dissesse para largarmos os telemóveis, para escutarmos mais a nossa própria voz e menos os ecos de uma sociedade que nos quer impecáveis, mas nunca autênticos. Talvez nos perguntasse se estamos a usar a tecnologia como uma ferramenta de liberdade ou como uma nova forma de submissão. Quantas decisões ainda são verdadeiramente nossas? Quantos versos ainda nascem da dúvida, do erro, da emoção genuína?
Afinal, o que vale mais: ser bem-sucedido aos olhos dos outros ou encontrar sentido na própria existência? Muitos vivem apenas para cumprir expectativas, esquecendo-se de que a única aprovação que realmente importa é a nossa. A vida, como a poesia, não precisa de ser perfeita. Precisa de ser sentida.
E, no fim, quando olharmos para trás, o que veremos? Um caminho trilhado com medo ou uma história escrita com paixão? Subiremos para cima da mesa ou continuaremos sentados, obedientes, à espera que alguém – ou algo – nos diga como devemos viver?
A decisão sempre foi nossa. Mas será que ainda sabemos escolhê-la?
Carpe diem