Autor: Ariana Andrade, 11.º A
De facto, o professor Keating surge como uma figura disruptiva e inovadora num ambiente tradicionalista, fechado e conservador, onde o pensamento crítico é reprimido. Essa virtude é um dos pontos mais abordados no filme, sendo que o ensino, que se baseia na memorização e repetição, torna os alunos pouco críticos. No entanto, Sr. Keating possui uma pedagogia de ensino nada convencional e tem como intuito permitir que seus alunos pensem por si e criem as suas próprias opiniões. Ele convida os seus alunos a tornarem-se “livres pensadores”, desafiando verdades estabelecidas e assumindo o controlo sobre as suas próprias ideias, procurando demonstrar-lhes que eles são ferramentas capazes de transformar o mundo. É o único capaz de dar voz ao que os alunos sentem e pensam, impulsionando-os a tomarem consciência de que há um fim, sugerindo que vivam intensamente cada momento. Essa autonomia de pensamento é um dos pilares da filosofia existencialista, onde o indivíduo é chamado a ser autor da sua própria narrativa.
Além disso, a cena em que Keating pede aos alunos para rasgarem as páginas de um livro didático simboliza essa rejeição às regras predefinidas e incentiva uma interpretação pessoal da poesia e da vida. Essa atitude não é apenas um apelo à liberdade intelectual, como também um lembrete de que o questionamento e a reflexão são essenciais para o crescimento humano. Num mundo frequentemente dominado por dogmas e convenções, o filme desafia-nos a sermos criadores ativos das nossas próprias verdades e a encontrarmo-nos a nós próprios e o que nos faz realmente felizes, seguindo os nossos sonhos e desejos.
O significado de “Carpe diem”:
A expressão latina carpe diem, que significa “aproveita o momento”, é o mantra central de Keating. Este conceito, originário da obra do poeta Horácio, convida-nos a viver plenamente no presente, reconhecendo a efemeridade da vida. “Carpe diem” é o maior ensinamento do professor que perpassa durante o filme, incentivando-nos a fazer o nosso dia extraordinário dado que pode não haver amanhã. Para os jovens protagonistas, o carpe diem apela à ideia de que a vida deve ser vivida com coragem e intensidade, mesmo diante das restrições impostas por estruturas sociais ou familiares. O professor procura conduzir a rebeldia daqueles jovens tão reprimidos, tirando proveito da energia de enfrentamento da juventude para criar um espaço novo e mais livre, defendendo que se deve apreciar a beleza do presente e conseguir controlar os problemas por meio da dinâmica do “aqui e agora”.
Além disso, diversos filósofos aprofundam esta ideia, tal como Heidegger, ao enfatizar a importância do ser autêntico e do reconhecimento da nossa finitude. Segundo Heidegger, a consciência da mortalidade é o que nos incentiva em agir de forma expressiva. O carpe diem relata esta reflexão existencialista, lembrando-nos de que viver no presente exige abraçar as possibilidades da nossa existência, mesmo diante da inevitabilidade do fim.
Porém, o carpe diem também exige responsabilidade. Viver o momento não significa agir de forma impulsiva, mas sim fazer escolhas conscientes e significativas. A mensagem é clara: a vida é um presente finito, e cada instante perdido é irrecuperável.
A expressão “Sugar o tutano da vida”:
A expressão “Sugar o tutano da vida”, inspirada e retirada de uma citação de Henry David Thoreau, simboliza a busca pelo essencial, pela substância da existência. Esta ideia, também defendida por Keating, sugere que a vida deve ser vivida de maneira profunda e autêntica, rejeitando superficialidades, dado que tudo tem um fim e, por isso, devemos usufruir a nossa jornada de forma extraordinária e desmedida, não nos limitando pelo tradicional e convencional, mas sim ultrapassado essas normas.
Este ideal pode ser relacionado com o sustentado por Nietzsche, que nos remete para a importância de abraçar a vida em toda a sua intensidade, rejeitando valores superficiais e criando os nossos próprios significados.
Aliás, este conceito, no filme, pode ser percecionado como um convite à coragem de perseguir sonhos, tal como o de Neil Perry na sua paixão pelo teatro. Por outro lado, pode ser visto como um desafio à autoaceitação e à descoberta da própria voz, sendo Todd Anderson um exemplo. Essa expressão reflete um apelo universal: não apenas existir, mas realmente viver. “Sugar o tutano da vida” implica enfrentar o medo e a inércia para explorar todas as dimensões da nossa humanidade.
Reflexão sobre a pena de morte:
Primeiramente, a pena de morte é um dos temas mais complexos, controversos, e ao mesmo tempo, fundamentais da história da humanidade, tem sido sujeita a diversos debates éticos e morais ao longo dos anos. Esta prática consiste num procedimento legal em que o Estado de um país condena uma pessoa à morte como punição por um crime. Trata-se da sentença mais extrema que uma sociedade pode aplicar e, portanto, uma medida irreversível.
Apesar de a morte não ser um tema central no filme, a ideia de perda irreparável está presente na narrativa. A tragédia da morte de Neil Perry, simbolicamente, levanta questões sobre as consequências de sistemas opressivos que não valorizam a autonomia individual.
Desta forma, estabelece-se uma relação entre a desumanização do indivíduo pela pena de morte e pela repressão das potencialidades humanas, ambas formas de extinguir vidas que poderiam surgir.
A partir desta citação: “Fui para os bosques vivendo de livre vontade e para sugar o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi”, Thoreau desafiou-nos a viver com intenção e profundidade, uma mensagem que contrasta fortemente com as estruturas que sufocam a autonomia e a liberdade, criticando à negação da vida autêntica, seja pela morte literal, como no caso da pena de morte, ou pela repressão das possibilidades humanas, como testemunhamos na vida de Neil Perry. Esta reflexão convida-nos a ponderar sobre o valor da vida e as implicações de decisões que impactam de forma definitiva a existência humana.
Em suma, o filme Clube dos Poetas Mortos é um convite intemporal para a reflexão sobre como vivemos, aprendemos e nos relacionamos com as nossas próprias escolhas. Ele desafia-nos a abraçar a autonomia de pensamento, a valorizar o momento presente e a buscar uma vida com significado. Para além de ser um filme, é uma lição sobre o poder transformador da educação, da poesia e da coragem de ser. Ao final, a mensagem de Keating ressoa: a vida é breve, e cabe a cada um de nós decidir como preenchê-la. O chamado para “subir para cima da mesa”, mesmo perante as adversidades, permanece como um símbolo universal de resistência e esperança.

