Autor: Francisco Freitas, 11º A
Vivemos numa era em que os Media têm um poder enorme sobre a forma como os jovens percecionam o mundo. Hoje, as redes sociais são quase uma extensão de nós próprios. É nelas que muitos jovens procuram aprovação, inspiração e até orientação.
Influenciadores digitais moldam gostos, opiniões e estilos de vida, muitas vezes sem consciência crítica por parte de quem os segue.
A influência dos Media e das redes sociais vai além da simples partilha de conteúdos. Karl Marx descreveu um conceito interessante, a alienação – a ideia de que as pessoas podem ficar tão imersas no que é imposto pelo sistema que perdem a capacidade de questionar e ver além. No fundo, os jovens podem estar tão absorvidos nas redes sociais que acabam a viver numa realidade distorcida, longe de quem realmente são.
Neste contexto, o filme Clube dos Poetas Mortos faz-nos refletir sobre a importância de pensar de forma independente e desafiar as normas impostas. Quando o professor Keating diz para “sugar o tutano da vida”, ele apela a uma vivência plena e consciente, que não seja condicionada por modas passageiras ou manipulações mediáticas. Tal como Keating desafiou os seus alunos a subir para cima da mesa e ver o mundo de outra perspetiva, também nós precisamos de questionar o que consumimos online.
Por outro lado, há o problema da desinformação. A facilidade com que as fake news se propagam é assustadora. Platão, na sua Alegoria da Caverna, falava de prisioneiros que viam sombras projetadas numa parede e acreditavam que aquilo era a realidade. Será que muitos jovens hoje não estão presos numa espécie de “caverna digital”, a aceitar opiniões de terceiros como se fossem factos inquestionáveis?
E quando consumimos conteúdos sem pensar criticamente, tornamo-nos vulneráveis a manipulações. Políticos, marcas e até movimentos sociais aproveitam-se desta vulnerabilidade. Descartes proferiu “Penso, logo existo”, sublinhando a importância da dúvida para construir conhecimento. No entanto, hoje parece que há pouco espaço para duvidar; partilhamos e consumimos informação sem a questionar. A reflexão crítica desaparece no meio de tantos likes e partilhas.
A responsabilidade dos Media e das plataformas digitais é inegável. Precisamos de um esforço real para combater a desinformação e proteger os jovens da manipulação. As redes sociais têm de ser mais transparentes e implementar políticas rigorosas contra conteúdos enganosos. Foucault falava do conceito de vigilância – o “panóptico” – uma forma de controlo invisível que condiciona comportamentos. As redes sociais fazem-nos sentir observados e isso acaba por influenciar o que partilhamos e como nos comportamos online.
A filosofia pode ser a nossa ferramenta mais poderosa para resistir a estas influências.
O método socrático de questionar tudo e todos é fundamental: “Conhece-te a ti mesmo”. Antes de partilhar ou acreditar em algo, precisamos parar, pensar e questionar. A filosofia não nos dá respostas certas, mas ajuda-nos a ver para lá das sombras da caverna.
Para além disso, a perspetiva de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal mostra-nos como a aceitação passiva de normas e informações falsas pode levar a consequências graves. A influência da opinião pública, muitas vezes manipulada pelos Media, leva a uma uniformização de pensamentos que Arendt criticava. Pensar de forma independente e resistir à influência massiva dos Media é um ato de coragem e resistência.
Também a teoria da hegemonia cultural de Gramsci se aplica aqui. A cultura de massa muitas vezes dita tendências e normas sociais, tornando difícil para os jovens desenvolverem uma visão crítica e autónoma. Gramsci acreditava que o conhecimento crítico era a chave para resistir à hegemonia cultural, algo que a literacia mediática procura fomentar.
Neste sentido, a filosofia de Nietzsche sobre a criação de valores individuais também é relevante. Vivemos numa sociedade onde seguir influenciadores e opiniões populares é visto como normal. Nietzsche desafia-nos a criar os nossos próprios valores, a sermos “super-homens” capazes de pensar para além da moral imposta. Tal como Keating desafiava os seus alunos a ver o mundo de outra perspetiva, Nietzsche desafia-nos a romper com a conformidade.
A educação para a literacia mediática nas escolas é, por isso, fundamental. Precisamos de preparar os jovens para distinguir factos de opiniões, para identificar manipulações e para serem cidadãos informados e críticos. Só assim poderemos construir uma sociedade onde os jovens não sejam apenas seguidores, mas pensadores ativos e responsáveis.
Contudo, é importante reconhecer que nem todo o impacto dos Media é negativo. As redes sociais também proporcionam espaço para debates, para a exposição a diferentes perspetivas e para a criação de movimentos sociais que promovem mudanças significativas. Ainda assim, se estas ferramentas não forem usadas com responsabilidade, podem gerar consequências perigosas. Aristóteles, na sua ética, falava do “justo meio”, um equilíbrio que devemos procurar em tudo o que fazemos. No uso das redes sociais, esse equilíbrio é fundamental: aproveitar o que têm de positivo, mas evitar cair na alienação e na superficialidade.
Finalizando, o impacto dos Media nos jovens é um desafio complexo que exige reflexão e responsabilidade. Precisamos de formar jovens que saibam questionar, que tenham coragem de subir para cima da mesa, tal como os alunos de Keating, para verem o mundo de outra perspetiva. Só assim poderão “sugar o tutano da vida”, vivendo com consciência crítica e autonomia de pensamento. A filosofia continua a ser um guia valioso para navegar neste mundo saturado de informação, ajudando-nos a discernir o essencial do supérfluo e a construir uma sociedade mais crítica e informada.