Independência e autonomia do pensamento

Autor: Leonor Miranda, 11º A

A autonomia de pensamento é fundamental para o desenvolvimento humano e está no cerne da filosofia. No filme Clube dos Poetas Mortos, o professor John Keating surge como uma figura transformadora num ambiente ortodoxo, tradicionalista e conservador, onde o pensamento crítico é frequentemente oprimido. Nesse contexto, Keating adota uma forma de ensino inovadora, rejeitando métodos baseados na memorização e repetição. Ele desafia os seus alunos a questionarem as normas estabelecidas e refletirem profundamente para descobrirem as suas próprias verdades.

Keating não apenas ensina, mas inspira os seus alunos a tornarem-se “livres pensadores”, capazes de transformar o mundo à sua volta. A sua atitude para que subam às mesas mostra a possibilidade de observar a vida sob novas perspetivas, rompendo com as limitações impostas. Além dessa cena também quando os encoraja a rasgar a introdução do livro didático representa a rejeição às regras inflexíveis, motivando-os á interpretação pessoal da poesia e da sua existência, chamada liberdade intelectual e autenticidade.

Essa mensagem é profundamente filosófica, ecoando ideias do existencialismo, onde o indivíduo é convocado a ser o autor de sua própria narrativa. Essa autonomia de pensamento é crucial para o romper de padrões pré-estabelecidos neste caso pelos seus pais e também pela instituição.  Além disso, a argumentação filosófica não é apenas um meio de expressar convicções, mas uma ferramenta de libertação. Ao fundamentar ideias em argumentos racionais, afastamo-nos do dogmatismo e da manipulação, pois o argumento claro e lógico permite persuadir não pela força, mas pela razão, convidando outros a refletirem e, eventualmente, a reavaliarem as suas posições pessoais.

Sentido do “sugar o tutano da vida”

Já expressão “sugar o tutano da vida”, de Thoreau, simboliza a busca pela essência mais profunda da existência. Assim como o tutano é a parte mais nutritiva de um osso, a frase convida-nos a viver de maneira intensa e autêntica, indo além das aparências e superficialidades para encontrar o que realmente importa.

Esse ideal, frequentemente associado ao transcendentalismo de Thoreau, reflete uma visão de vida baseada na simplicidade, na conexão com a natureza e na descoberta das verdades mais profundas da existência humana. Para este, a essência da vida não reside em bens materiais ou convenções sociais, mas sim numa experiência plena e consciente, que permite ao indivíduo explorar a sua verdadeira identidade espiritual.

Filosofias como a de Nietzsche também refletem esse apelo à profundidade. O filósofo alemão defendeu a ideia de abraçar a vida na sua totalidade, rejeitando os valores superficiais impostos pela sociedade e criando significados próprios para ela. Essa abordagem exige coragem para enfrentar as incertezas e limitações da existência, transformando a vida numa obra única e autónoma.

No universo cultural, o conceito de “sugar o tutano da vida” é frequentemente associado à coragem de viver de maneira extraordinária. No filme, onde o professor Keating inspira os seus alunos a realizarem os sonhos e seguirem as suas paixões por exemplo quando Neil Perry, atreve- se a seguir a sua paixão pelo teatro, ou Todd Anderson, que encontra a sua voz e supera as suas inseguranças, essa frase transforma-se num convite à autenticidade e à autorrealização.

Esse ideal é chamado de desafio a abandonar o medo, a inércia e os conformismos que nos afastam da nossa verdadeira essência. “Sugar o tutano da vida” não se trata apenas de existir, mas de realmente viver de uma forma intensa, significativa e em constante busca por propósito e conexão.

Sentido do “Carpe Diem”

Para além disso a referência a expressão latina “carpe diem”, que significa “aproveita o dia” ou “o momento”, é um convite à vivência plena do presente. Originada na obra do poeta Horácio, esta ideia remete ao facto da vida ser finita e destinada a um curto prazo de tempo com a necessidade de tornarmos cada dia significativo.

Diversos pensadores também exploraram a essência do “carpe diem”. Para Heidegger, por exemplo, a consciência da mortalidade impulsiona-nos a agir de uma maneira autêntica. Essa perspetiva lembra-nos que viver intensamente exige coragem para abraçar as incertezas e aproveitar as oportunidades, sem perder de vista a ética e a responsabilidade.

No filme, o conceito de «carpe diem» é essencial, representando a mensagem poderosa do professor Keating. Ele convida os alunos a viverem intensamente e sem arrependimentos, aproveitando oportunidades do presente, já que o futuro é incerto.

NO entanto, o “carpe diem” ensina que viver no presente não significa desconsiderar as consequências dos nossos atos. Pelo contrário, a vivência plena requer decisões conscientes, que reflitam a nossa capacidade de ponderar e agir com propósito.

Manipulação genética

A reflexão proposta pelo filme “Clube dos Poetas Mortos”, remete diretamente para dilemas éticos, como a manipulação genética. No filme, a procura pela plenitude na vida e a expressão genuína do ser humano, como sugerido pela frase de Thoreau, confronta o peso da finitude e da morte. O professor Keating, ao encorajar os seus alunos a viverem a vida de forma verdadeira e intensa e mostrarem as suas diferenças, depara-se com a morte de Neil, um jovem que, na sua própria busca de significado, não conseguiu encontrar outra saída para pressões externas.

A manipulação genética, por sua vez, traz à tona questões filosóficas e éticas sobre o valor da vida e a autenticidade do ser humano. A clonagem, seja ela reprodutiva ou terapêutica, envolve um profundo questionamento sobre o direito à individualidade e à dignidade humana. No caso da clonagem reprodutiva, a criação de um organismo geneticamente idêntico levanta a dúvida: seria essa vida uma replicação legítima ou uma imitação do que é genuíno? A clonagem terapêutica, por outro lado, ao manipular células para curar ou regenerar tecidos, também coloca em debate a questão do que significa intervir na natureza para curar doenças, mas, ao mesmo tempo, questiona se essas intervenções violam um respeito fundamental pela vida, a sua dignidade.

Esses dilemas éticos surgem da tensão entre o desejo de progresso científico e a necessidade de responsabilidade moral. Como bem demonstrado no filme, a busca por um sentido genuíno na vida exige mais do que seguir um caminho determinado por pressões externas, sejam elas sociais ou familiares. Da mesma forma, o avanço da biotecnologia exige reflexão crítica sobre os impactos das tecnologias na identidade, na autonomia e na moralidade humana.

O estatuto moral de um embrião, por exemplo na questão, o que significa “ser humano” pois gera um debate sobre os direitos da vida nas fases inicias.

Os avanços podem ser impulsionados por interesses financeiros e tecnológicos que colocam em risco a dignidade humana, no caso da inseminação artificial post-mortem ou o uso de banco de esperma e criopreservação de embriões também reforçam esse dilema ético. O que significa para a criança ou para a família quando a vida é tratada como um recurso armazenável, disponível para ser adquirido a qualquer momento, sem o devido reconhecimento da sua autenticidade e valor?

Em relação ao filme, podemos comparar os clones (organismo geneticamente idêntico) com os alunos que saíam dessa escola preparatória uma vez que eles não podiam expressão as suas diferenças, pensamentos próprios e estes estavam submissos aos que eram lhe impostos. Sendo uma chamada de atenção que os limites éticos e morais são necessários para que possamos continuar a honrar a dignidade da vida, em toda a sua complexidade.

Em conclusão, o filme Clube dos Poetas Mortos e as reflexões filosóficas que dele emergem convidam-nos a uma vivência mais consciente e autêntica, onde a busca pelo significado da vida é indissociável da coragem do questionar e desafiar regras. O lema carpe dieme a expressão sugar o tutano da vida lembram-nos da importância de viver intensamente, mas com responsabilidade e discernimento. Além disso, ao abordar dilemas éticos contemporâneos, como a manipulação genética, é essencial manter o equilíbrio entre o progresso científico e a preservação da dignidade humana, respeitando os limites que garantem nossa humanidade. A verdadeira plenitude, como ensina Keating, está em viver de forma autêntica e responsável, aproveitando cada momento para criar um sentido profundo e ético para a nossa existência e sempre ter um pensamento crítico sobre tudo o que nos rodeia.

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