Autor: Manuel Martins, 10º C
“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”: Paulo Freire
Um ser que não pensa, é um ser que se deixa rotular em função do que lhe é dito. Não tem espírito crítico, não evolui, crê em dogmas e rege-se por eles. Já os filósofos iluministas defendiam que uma visão otimista do futuro se aliava à razão e ao conhecimento racional, como forma de libertar o Homem da servidão, dos preconceitos, das injustiças e dos erros que marcam a sociedade, para construir o progresso e, através dele atingir a felicidade. Se não formos livres de pensar, ou, por outras palavras, não tivermos autonomia de pensamento, não temos capacidade de reconhecer a evolução contínua, nem de reconhecermos os limites da nossa própria ignorância.
Por vezes, demasiada rigidez e autoritarismo desviam o foco da progressão humana. “Antes de sermos seja o que for, devemos ser bons Seres Humanos”.
No colégio, os alunos são padronizados segundo um molde e, está fora de questão, desviá-los dele. No fundo, os alunos são objetos “fabris” e não tratados como “livres pensadores”. A exigência depositada neles, bem como os gastos que os pais tinham com a sua educação, não permitiam desvincular o objetivo, isto é, o futuro garantido.
O “Carpe diem” deve servir como referência para as nossas ações e argumentações?
“Não temos de nos preocupar em viver muito tempo, mas em viver em pleno”: Séneca.
Ter consciência da finitude da vida leva a que procuremos aproveitar a vida ao máximo. “Até porque pode não haver amanhã”.
No filme, o professor procura conduzir aqueles jovens tão reprimidos, por um conservadorismo atroz, conquistando e encorajando-os a viver de uma maneira extraordinária, aproveitando o momento e dando prioridade às suas ideias e vontades.
A máxima “Carpe diem” justifica que cada um dos alunos recupere a sua liberdade e natural ousadia e vá alterando o seu comportamento habitual.
O professor representa a esperança de poderem viver plenamente com as suas próprias escolhas.
Viver com intensidade, não existir apenas!
De que forma os argumentos podem atuar como uma ferramenta de libertação, fundamentação e persuasão das nossas teses face às questões e problemas que surgem na nossa realidade existencial?
Uma das cenas memoráveis do filme é quando o professor se coloca de pé em cima de uma mesa, na sala de aula, convidando todos a fazerem o mesmo. Isto, porque estando mais alto, a perspetiva muda. Há várias formas de ver a vida e há diversos modos de encará-la. Nada é estático que não, possa ser reversível, até ao fim da vida.
“Estou em cima da mesa para vos lembrar que devemos olhar constantemente as coisas de maneira diferente.”
A busca do pensamento crítico é um dos pontos abordados pelo filme. A nova postura do professor, com uma pedagogia pouco convencional, tem o intuito de permitir que os alunos pensem por si e criem as suas próprias opiniões.
Aprender a ler o mundo é um dos conceitos que está relacionado com a melhoria das perceções, bem como a criação de autonomia de pensamento. A leitura leva-nos a refletir sobre algumas questões existenciais que nos ajudam a conhecermo-nos e a conhecer o mundo, em redor. Por outro lado, a leitura além de vocábulo, ajuda na formulação de aprendizagens e de fundamento à argumentação. Qualquer argumento tem de ter uma génese!
“Quando pensam que sabem uma coisa têm de olhar para ela de maneira diferente.”
“Quando leem, não tenham apenas em mente aquilo que o autor pensa, pensem no que vocês pensam. Esforcem-se por encontrar a vossa própria voz.”
O Ser Humano enquanto intelectual tem o dever de indagar, de “iluminar “os seus pensamentos, pois, é através deles que gere as suas ações. “Somos aquilo que pensamos”. A curiosidade fomenta a aprendizagem: querer saber mais e melhor, para bem fazer e ser.
“Ousem pensar.”
O que significa “sugar o tutano da vida”, levado à letra?
Num ambiente inflexível, repleto de regras, fechado e severamente conservador, a visão do professor desencadeia uma nova perspetiva da realidade que, até então, desconheciam.
Através de atividades excêntricas, o professor Keating faz com que os alunos aprendam e procurem o conhecimento.
“Só nos seus sonhos o Homem é realmente livre, é assim e sempre será”
O amadurecimento dos jovens faz com que, no desenrolar do filme, revelem as suas verdadeiras aspirações para o futuro, contrariando o que o colégio e a sociedade esperam deles.
O legado deixado pelo professor, é seguido pelos seus discípulos que, para o homenagear e mostrar que a passagem dele não foi em vão nas suas vidas, também, se colocam em cima da mesa, enfrentando o diretor e qualquer possível consequência proveniente dessa atitude.
Keating é um exemplo de como seguir os seus ideais, à mercê do julgamento alheio. Podem tê-lo transferido, ao culpá-lo pela morte/suicídio de Neil, mas isso não o impediu de transmitir o lema da esperança, segundo um espírito crítico, na educação, como arma transformadora da sociedade.
A maioria dos homens leva a vida num tranquilo desespero. Não nos podemos deixar levar por isso. Há que reagir!
Tal como foi transmitido aos colegiais, é preciso incutir a beleza da vida. Keating pretendia que cada aluno fizesse da sua vida um poema. E não será isto, também, ensinar literatura?!
Sejamos vivos, e não mortos, para a vida e para os seus desafios diários.
Abordemos outra “passagem do filme”, depois da morte de Neil, na qual, o professor Keating, sozinho na sala de aula… chora, abre o livro “Cinco Séculos de Poesia” que se encontrava na secretária do Neil e depara-se com a afirmação:
“Fui para os bosques vivendo de livre vontade e para sugar o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.”
Depois de tudo o que Keating ensinou, o trágico acontecimento vem pôr em causa a sua ação e ditar o seu fim como professor de Welton.
Paradoxalmente, o caminho de Neil em direção à morte, oposto ao vigoroso apelo de vida, profetizado pelo professor, parece ter sido mal assimilado.
Ao debruçar-se sobre o próprio processo de ensino, o filme coloca-nos diante de um olhar crítico sobre as questões educativas. O ensino privado, tão bem retratado, além de apresentar métodos exclusivamente ligados à aquisição de saber e conhecimento, não dava espaço de manobra aos alunos para pensarem por si. A referência ao passado do colégio é um elemento determinante. Há uma herança, que o diretor Nolan, não abdica de realçar. O prestígio ganho é tal, que os pais confiam inteiramente a educação dos filhos ao colégio. Quando o comportamento dos alunos se afastava dos pilares defendidos pela instituição, o castigo é o recurso, frequentemente, utilizado, sob a forma de violência física, com o apoio dos pais. A ameaça de expulsão, também utilizada, é imposição da rigorosa disciplina deste regime colegial. A maneira como as aulas são lecionadas pelos diversos professores vai de encontro à rigidez e à intransigência defendida pelo colégio.
Este cenário leva a criar um fosso imenso entre os métodos de ensino tradicionais e os que Keating procura instaurar na sua passagem “relâmpago” pela instituição.
O colégio interno, onde decorre a ação do filme, e à semelhança do que ainda hoje acontece, em alguns deles, apresenta diversos dogmas: a não mistura de sexos; a aceitação plena de tudo o que era aprendido; o cumprimento escrupuloso; a idealização de “fantoches” letrados e com um futuro risonho; um regime punidor, de enorme exigência e com padrões elevados, acessível apenas à elite; a falta de autonomia; a própria indumentária; a ordem extrema.
Existe, no filme, um propósito evidente de demonstrar que, as instituições de ensino particulares, ainda que queiram zelar pelo bem e futuro dos seus alunos, não devem levá-lo à última instância. Existem limites para o nível de exigência. Não é por punir, ameaçar, criar pavor, que alguém se torna mais responsável ou mais capaz intelectualmente. Não é o “ranking”, apenas, que conta.
Talvez a metodologia de Keating tenha sido demasiado inovadora e nem todos tenham conseguido captar a mensagem pretendida, mas isso é um facto real com que nos deparamos diariamente. Para a mesma mensagem, há diversos recetores e cada qual interpreta conforme a percebe e faz dela e com ela o que bem entende. É a essência humana!
“Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno.” (assim argumentava Nietzsche)
Relativamente ao ensino público, embora se assista a um esforço para o tornar mais inclusivo e para cumprir o fim a que se propõe, ainda não atingiu o patamar que Keating defende como ideal. Há, na escola pública, mais heterogeneidade, uma miscelânea de experiências culturais e menos padronizadas, não separando por sexo e não apenas ao dispor da elite. Contudo, como retratado no “Clube dos Poetas Mortos”, o ensino ainda se encontra muito centralizado para a aquisição de saber.
“Aprender sem pensar é esforço vão; pensar sem nada aprender é nocivo.”, afirmava Confúcio.
Para atingir a metodologia de Keating ainda há muito “trabalho de casa” a ser feito. Quer o trabalho dos alunos, quer o trabalho dos professores, é regido por normas/diretrizes, burocracias, programas, avaliações, “rankings” e afins. Torna-se difícil aplicar o “Carpe diem” face ao stress que vivemos, em ambiente escolar.
Friedrich Nietzsche referia “E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.
Para aumentar a qualidade da educação, é necessário tomar medidas como investimentos, campanhas de incentivo e reformas educacionais. Estas soluções são essenciais para melhorar a situação atual. A verdade é que, embora, haja diferenças significantes entre o ensino público e o ensino privado, ambos têm propósitos e ambos devem estar à altura dos desafios que lhe são colocados dia a dia.
“Não falo de artistas, mas de livres pensadores”, como justifica Keating.
Admitir que podemos aprender de diversas formas é reconhecer que todos somos mestres e aprendizes.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” – Paulo Freire.
A vida é uma lição constante e a educação fornece-nos as ferramentas para melhor lidarmos com ela.
Até que ponto será legítimo um professor interferir na educação dos seus alunos?
Os métodos de Keating, ainda que questionados, foram capazes de captar a atenção da sala de aula e, em última instância, de despertar o interesse pela literatura. Em suma, a educação amplia horizontes.