Autor: David Correia, 10º D
O filme “Clube dos Poetas Mortos” faz-nos debruçar sobre diversas questões filosóficas ao longo do mesmo, através de uma história de um professor de literatura e dos seus alunos num colégio interno, com uma disciplina muito rígida. As aulas de poesia, lecionadas pelo professor Keating não seguem a etiqueta e regras da instituição. Entusiasmados com o lema “Carpe diem” (aproveita o dia) proclamado pelo professor, os alunos ganham coragem para experimentar desafios e experiências que nunca antes ousariam enfrentar. À semelhança do que o professor Keating fizera na juventude, sete dos seus alunos retomam o “Clube dos Poetas Mortos”. O clube reúne-se à noite, numa gruta, para lerem passagens filosóficas, bem como poemas. Posteriormente, o suicídio de um jovem, Neil, após o pai não o deixar perseguir o seu sonho, vai desencadear uma situação de confronto entre a direção do colégio e o professor Keating acusado de incentivar os seus alunos à desobediência.
“A possibilidade de um pensamento que não seja autónomo criar algo novo”.
Por um lado, um pensamento que não seja autónomo não poderá criar algo de novo, uma vez que esta é uma ideia já existente, criada por alguém anteriormente.
Logo, este pensamento não é único, tendo falta de criatividade e caráter, já que não foi da nossa origem. Por outro lado, não existem dois seres iguais, ou seja, apesar de partilharmos ideias semelhantes, cada pessoa é única. Deste modo, os seres humanos podem tomar um pensamento que não seja da sua origem como sua, acrescentando-lhe características, alterando, deste modo a sua identidade. Da mesma forma, as ideias podem ser adotadas pelas pessoas consoante as diferentes realidades e personalidades. Assim sendo, debruçamo-nos sobre a epistemologia, que reflete sobre a possibilidade e limites do conhecimento. Do mesmo modo, um pensamento nunca está finalizado, este é moldado com o tempo, diferentes realidades e perspetivas.
Da mesma forma, o mesmo argumento não pode moldar realidades diferentes da mesma forma, já que cada situação é única, apesar de, por vezes, esta parecerem semelhantes. Deste modo, um pensamento não autónomo pode criar algo novo, uma vez que todas as ações são diferentes e o tempo nunca para, logo o mundo está constantemente a alterar-se e a moldar-se.
“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. – Heráclito
Consequentemente, questionam-nos se «concordamos», como é defendido no filme, que o nosso agir quotidiano e a nossa argumentação devem ter como referência o “Carpe diem”
Concordo que o nosso agir quotidiano e a nossa argumentação devam ter em conta o “Carpe diem” (aproveita o dia), já que este incentiva as pessoas a aproveitar a vida, desfrutando intensamente cada momento, independentemente da fase que atravessamos.
Da mesma forma, o “Carpe diem” pretende que desfrutemos a vida, mostrando-nos que só se vive uma vez, e que apesar de todas as pessoas “viverem” (existirem) nem todas desfrutam o que a vida nos oferece da mesma forma, ou por falta de vontade, possibilidade, doença ou inúmeras outras razões. Assim, refletimos sobre a “finitude humana”, já que “nós”, como ser humano somos uma “fase” no mundo, ou seja, somos mortais, perguntando-nos: “não deveríamos desfrutar mais o que a vida nos proporciona”.
Consequentemente, o “Carpe diem” permite-nos adquirir autonomia de pensamento, que consiste na capacidade de uma pessoa pensar, raciocinar e tomar decisões de forma independente. Deste modo, o ato de filosofar, refletir e pensar pode ser uma poderosa “arma” moderadora.
No filme “Clube dos Poetas Mortos”, Neil Perry, desfruta o “Carpe diem” no momento, no qual o mesmo atua numa peça de teatro, já que representar era o seu sonho e objetivo. Assim, enquanto Neil esteve em palco desfrutou de um momento único, que marcou a sua existência. Deste modo, o jovem estudante pôde desfrutar do seu sonho, contrariamente ao que o seu pai ambicionava para o seu futuro.
Assim, o “Carpe diem” incentiva as pessoas a perseguir as suas metas, servindo de motivação.
Por outro lado, o “Carpe diem” tem de ser desfrutado com moderação, tendo em conta que só estaremos a desfrutar o dia/momento na sua plenitude se não impedirmos alguém de também o desfrutar, respeitando as opiniões, limites e características de cada um.
“A nossa vida é o que nossos pensamentos fazem dela”.
Marco Aurélio
A felicidade é o significado e o propósito da vida, o objetivo e fim da existência humana.
Aristóteles
Posteriormente, questionam-nos: “de que modo os nossos argumentos devem afirmar-se como uma forma de libertação/fundamentação/persuasão das nossas teses/teorias (convicções/perspetivas/opiniões/respostas conclusivas) face às questões que colocamos perante os problemas com que nos deparamos na nossa realidade existencial?”
Desta maneira, argumentar permite-nos entender melhor o que se passa à nossa volta, bem como ajuda muitas pessoas a se libertarem de pensamentos intrusivos, por exemplo. Ou seja, interpretar as questões, refletindo também sobre as diferentes soluções e como estas impactam a nossa realidade e a dos outros.
Consequentemente, os argumentos ajudam-nos a apoiar e fundamentar as nossas teses e teorias, persuadindo as pessoas, através da fundamentação e suporte do que defendo.
Da mesma forma, a argumentação permite-nos expor as nossas perspetivas e opiniões com maior credibilidade.
Tal como o professor Keating referiu no filme, as nossas convicções são únicas, e estas definem-nos. Da mesma forma, por vezes é difícil mantê-las em frente aos outros. Assim, a argumentação “solidifica” o apoio às nossas teses.
Deste modo, os argumentos debruçam-se sobre a lógica, questionando-se sobre as características de um bom argumento que nos ajudam a produzir raciocínios válidos.
Assim, verificamos que as aulas do professor Keating permitiram aos alunos desfrutar a vida, bem como adquirir autonomia de pensamento, que lhes ajudou a criar as suas próprias teses e convicções. Do mesmo modo, os jovens conseguiram lidar melhor com a sua realidade, não tendo medo de expressar as suas opiniões e perspetivas.
Seguidamente, na cena final do filme, quando o diretor do colégio Welton manda o professor Keating abandonar a sala, e os seus alunos se colocam de pé nas mesas dizendo: “Oh captain, my captain”, contrariando as ordens do diretor mostram lealdade ao professor Keating.
Da mesma forma, constatamos que o antigo professor de literatura marcou aqueles estudantes, repetindo um dos gestos que o mesmo havia feito na primeira aula, com a finalidade de mostrar que a mesma coisa tem várias perspetivas de ser vista.
Deste modo, os alunos demonstraram defender as suas convicções, libertando-se dos pensamentos que os atormentavam. Do mesmo modo,” saíram da caixa”, não exitando a expressar os seus sentimentos.
Conhecimento é poder (Francis Bacon)
Viver sem filosofar é, propriamente, fechar os olhos, sem nunca tentar abri-los (René Descartes)
Posteriormente, perguntam-nos: Qual o sentido profundo da frase “Sugar o tutano da vida?”
Presente no filme, esta expressão, que se encontra no livro que Neil lia antes das suas reuniões do “Clube dos Poetas Mortos”, transporta um profundo significado.
Assim, esta incentiva-nos a viver cada momento intensamente, aproveitando tudo aquilo que a vida tem para ser experienciado, tornando as nossas vidas únicas e extraordinárias.
Do mesmo modo, faz-nos refletir que a vida tem de ser aproveitada, para criar momentos e experiências únicas que marcarão a nossa existência como seres humanos.
Assim, no filme, os sete jovens que faziam parte do “Clube dos Poetas Mortos” desfrutavam vividamente dos momentos que passavam juntos na Gruta da Índia, tal como as aulas do professor Keating. Certamente, os alunos usufruíam aqueles momentos, como forma de relaxarem e de se libertarem dos trabalhos e responsabilidades escolares. Certamente, aqueles momentos ficaram marcados na vida dos personagens.
Consequentemente, a frase “sugar o tutano da vida” mostra-nos que as nossas vontades/desejos/ambições não devem ser alteradas ou impedidas pela vontade dos outros. Isto deve-se a, por vezes, familiares, amigos e outras pessoas nos impedirem de seguir os nossos objetivos, alterando negativamente a nossa opinião, fazendo, desta forma, com que nos tornemos “fachadas” de pessoas que os nossos parentes ou amigos tinham idealizado para nós. Desta forma, perdemos as nossas próprias características.
Tal como aconteceu no filme “Clube dos Poetas Mortos”, Neil ambicionava tornar-se ator, contudo, o seu pai, projetou no filho o seu sonho de criança, tornar-se médico. Desta forma, quando o pai de Neil viu o seu descendente representar numa peça teatral ficou chateado, afirmando que o tiraria de Welton e o mandaria para um colégio militar. Mais tarde, o progenitor de Neil acusa o professor Keating de incentivar os alunos a perseguir os seus objetivos. Deste modo, Neil vê as suas expectativas de tornar o seu sonho realidade desmoronarem, devido à atitude do seu pai. Posteriormente, o jovem estudante suicida-se, despedindo-se da sua ambição em se tornar ator.
Deste modo, ficou patente que certas das nossas decisões não devem ser influenciadas por outras pessoas, já que podem causar graves consequências.
Assim, na vida não podemos perder as oportunidades de desfrutar os momentos intensamente, apesar do medo e do receio que, por vezes, nos fazem exitar nas nossas decisões.
Concluindo, devemos viver sem ter medo de sentir o mundo e experienciar mudanças, contudo há que ter moderação.
Eis um breve comentário à passagem do filme na qual, depois da morte de Neil, o professor Keating, sozinho na sala de aula… chora, abre o livro “Cinco Séculos de Poesia” que se encontrava na secretária do Neil e depara-se com a afirmação:
“Fui para os bosques vivendo de livre vontade e para sugar o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.”
Desta forma, o professor Keating chorava após ter perdido um dos seus alunos. Apesar do professor de literatura, bem como todas as pessoas terem consciência que a finitude humana abrange todos os seres humanos é sempre doloroso receber a notícia que perdemos alguém que amamos, uma vez que, normalmente, essas pessoas marcam positivamente a nossa vida. Assim, quando estas pessoas falecem ficamos com um “espaço vazio” dentro de nós.
Posteriormente, quando o professor Keating encontrou o livro “Cinco Séculos de Poesia”, que era lido antes de todas as reuniões do clube, em cima da mesa de Neil ficou com um sentimento nostálgico, uma vez que tal como Neil, o docente já havia feito parte do “Clube dos Poetas Mortos”, logo aquela obra literária trazia-lhe boas memórias.
Assim, a frase que professor Keating leu: “Fui para os bosques vivendo de livre vontade e para sugar o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi” faz-nos refletir sobre a Estética e filosofia da arte, que se debruça sobre o estudo da natureza da beleza e da arte. Assim sendo, por vezes, as coisas mais bonitas do mundo são as que transportam um sentimento de simplicidade, como é o exemplo dos bosques.
Deste modo, é nas florestas que encontramos a natureza e a beleza natural no seu estado mais puro, tal como sentir a brisa, a chuva a cair no cabelo, o cheiro a orvalho, o som dos animais, entre muitos outros sentimentos incomparáveis.
Assim, o contacto com o meio natural é uma necessidade, visto que faz os seres humanos se sentirem livres, relembrando-lhes da forma como vieram ao mundo. Da mesma forma, a natureza transmite-nos um sentimento de paz, calmaria e tranquilidade.
Algumas vezes, as pessoas não sabem “Saborear” as experiências que o mundo nos fornece, tais como o por do sol, o cheiro a maresia, entre muitas outras sensações, valorizando apenas bens materiais e desvalorizando momentos.
Deste modo, esta passagem do filme mostra-me que devemos desfrutar a natureza e tudo aquilo que o mundo nos oferece, já que nunca sabemos quando será a última vez que poderemos experienciar o mesmo momento.
“O homem nasce bom e a sociedade o corrompe” – Jean-Jaques Rousseau
“A simplicidade é o último grau de sofisticação” – Leonardo da Vinci
Uma reflexão crítica autónoma sobre a eutanásia, permite-me sustentar a tese de que na maioria dos casos, nos quais pessoas têm doenças terminais e degenerativas, a eutanásia devia ser legalizada. Do mesmo modo, penso que estes pacientes devem estar plenos de consciência ou tenham deixado claro, num passado, que concordavam com a administração da mesma no seu corpo.
Assim sendo, considero que cada pessoa, detentora de consciência, deva poder ter acesso à eutanásia, já que todos os seres humanos vivem com um propósito. Da mesma forma, penso que quando estas pessoas já não encontram prazer e razões para viver, as mesmas devem poder ter acesso à dose fatal.
Na maioria destes casos, essas pessoas não conseguem “sugar o tutano da vida”, ou seja, não encontram “fragmentos” de felicidade no seu dia a dia. Do mesmo modo, considero que as pessoas têm direito de escolher aquilo que querem fazer com o seu corpo, já que são detentoras de autonomia de pensamento na maioria dos casos. Consequentemente, penso que o ser humano, nestas situações deve poder colocar fim à vida, porque está numa posição na qual está constantemente a sofrer.
“O homem sábio não busca o prazer, mas a libertação das preocupações e sofrimentos. Ser feliz é ser autossuficiente.” – Aristóteles